Para o louvor da glória de Deus.

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ESTUDO CONDUZIDO PELA CFW.

DA LEI DE DEUS
Capítulo XIX
O Pacto de Obras
XIX.1- Deus deu a Adão uma lei como um pacto de obras. Por este pacto, Deus
o obrigou, bem como toda sua posteridade, a uma obediência pessoal, inteira, exata e
perpétua; promete-lhe a vida sob a condição dele cumprir a lei e o ameaçou com a
morte no caso dele violá-la; e dotou-o com o poder e capacidade de guardá-la. Ref.:
Gl 3.12; Os 6. 7; Gn 2. 16,17; Rm 5. 12-14; Lc 10. 25-28; Gn 1. 26; Dt 30. 19;
Jo 7. 17; Ap. 22. 17; Tg 1. 14; Tg 1. 25; Tg 2. 8,10; Rm 3. 19; Dt 5. 32; Dt 10. 4; Ex
34. 1.
Síntese
O Pacto de Obras serviu para demonstrar que o homem é incapaz de manter
fidelidade absoluta a Deus, embora tivesse recebido capacidade e poder para sustentá-la.
O Pacto de Obras foi feito com a humanidade representada e corporificada em
Adão e Eva, o casal original, base de todas as etnias.
A fragilidade humana
Deus deixou a preservação da vida eterna, dada no ato da criação, sob a
responsabilidade do próprio homem. Para mantê-la, bastava a obediência a um
mandamento simples e direto: não comer o fruto da árvore, que Deus reservou para ser
exclusivamente sua. Todas as demais foram liberadas ao uso do primeiro homem ( Gn
2. 16,17 ), criado com altíssimo grau de inteligência, percepção e racionalidade, pois o
Criador o fez adulto, à sua imagem e semelhança ( Gn 1. 26,27 ). Diante do Criador a
“sua semelhança” não poderia alegar ignorância ou inocência. Assim, conscientemente,
desobedeceu, quebrando o termo pactual, o mandamento divino. A quebra da lei de
Deus enquadrou o infrator na pena cominada: No dia em que dela comeres, certamente
morrerás ( Gn 2. 17 ). A morte foi-lhe aplicada duplamente: a física e a espiritual. Pela
primeira, o espírito sofreu o castigo de separar-se do corpo, sua honrosa habitação e
meio de contato com o mundo natural sensível. Pela segunda, o espírito do homem
separou do Espírito de Deus de onde recebia a vida eterna. O resultado, pois, da ab-rogação
da ordenança divina foi a queda do casal original, expulso do Jardim do Éden,
onde vivia e convivia com seu Pai celeste e Rei supremo. O pecado, consequência da
desobediência, depravou totalmente o par original, alienando-o da fonte criadora: foi a
morte espiritual imediata, vindo, posteriormente, a física, quando se deu a
desencarnação do espírito: castigo duplo.
O primeiro pacto, estabelecido sob base legal, não preconizava a salvação, pois
Adão e Eva estavam salvos, sem pecado, mas a preservação do servo mordomo nos
domínios e proteção de seu Senhor. Rompido o pacto por infidelidade do ser humano, as
relações entre criatura e Criador foram cortadas. Adão recebeu de graça a vida eterna e
a perdeu por incapacidade de cumprir os termos pactuais da obediência, do respeito e da
submissão incondicionais. Em suma: a quebra da lei de Deus, cujos postulados
estabelecem o pacto entre Deus e o homem, é pecado. O primeiro homem era a base
genética e espiritual da humanidade. Caindo o tronco; caíram com ele todos os seus ramos. Toda a humanidade, no instante da desobediência, resumia-se e se corporificava
em Adão e Eva. Portanto, todos os pósteros desobedeceram, quebraram o pacto nos seus
ancestrais, herdando a semente da culpa, o pecado original. Notem bem, os
descendentes do primeiro casal não “herdaram a culpa;” “herdaram a semente da
culpa”, a tendência pecaminosa.
Adão, pessoa representativa
Adão e Eva, nossos genitores originais, não só representavam, mas de fato eram
a humanidade. Todos nós estávamos genética, moral, cultural e espiritualmente neles;
tudo de modo originalíssimo. O que eles foram, nós somos; pecamos com eles e neles.
Procediam e tomavam atitudes em nome e em lugar da posteridade. Um casal que
compra uma fazenda, seus descendentes, antes de virem à luz, já são herdeiros. Se, por
má administração, perde os bens patrimoniais, deserdam os filhos nascidos e por
nascerem. Nossos atos envolvem e comprometem nossos filhos. Adão, que agia por ele
e pelos seus pósteros, rompendo a relação com Deus pela ab-rogação do pacto de obras,
afetou todos os que estavam potencialmente nele, pois dele descenderam, jogando-os na
mesma situação em que se atirou. Toda a humanidade procedente caiu na antecedente.
A queda, pois, não foi, rigorosamente falando, de um homem isolado, mas da
humanidade nele sintetizada e consubstancializada. Como pecamos, originalmente, em
Adão, também em Cristo, o segundo Adão, fomos restaurados, pela reconciliação à
comunhão com Deus. O primeiro Adão foi cúmplice do pecado da raça; o Segundo,
responsável pela restauração de todos os eleitos do Pai.
A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal era o símbolo de provação, o
objeto proibido; não contendo, em si mesma, qualquer malignidade, contaminável ou
não. O pecado não residia potencialmente nela, mas no homem, em termos de
propensão ou tendência inconsciente. Também não se pode imaginar, no contexto da
cultura primitiva da humanidade, a existência do mal subjetivo, mentalizado e
ideológico. A mente do homem primevo ainda não estava preparada para o pensamento
abstrato, para conceitos filosóficos; atinha-se ao concreto, ao palpável, ao visível e ao
experienciável. Todos os conceitos emanavam do pragmático, do vivencial, do
perceptível pelos sentidos. O conhecimento, portanto, provinha do visível, do concreto,
do fenomenal observável ou realmente vivido. Desta maneira, o mal só passou a existir,
quando o homem experimentou os seus efeitos práticos em si mesmo ( vendo que estava
nu ) e na sua vida relacional com Deus ( sendo expulso do Éden ). “Conhecer”, para o
homem primitivo, era “experimentar”, e cada experimento incorporava-se ao seu
patrimônio pessoal de modo permanente. Assim, o homem somente “conhecia” a
mulher, quando tinha relações sexuais com ela, com resultados e conseqüências
duradouras: um só corpo com a “conhecida” e “geração de filhos”, frutos do
“conhecimento” real, existencial, entre um homem e uma mulher. O mal tornou-se
existente na vida do homem e da humanidade, a partir do momento em que ele, livre e
conscientemente, o praticou pela desobediência ou quebra da lei de Deus. Então a morte
decretada penalizou-o e nele a posteridade. A pena capital, imputada à humanidade na
pessoa de Adão, recaiu sobre o Filho de Deus que, incorporando todos os eleitos,
morreu em lugar deles e por eles. O sentido, porém, é mais profundo: Os eternamente
escolhidos morreram em Cristo Jesus e nele ressuscitaram para a vida eterna. No
Segundo Adão, o Filho de Deus, estão todos os predestinados à salvação, como todos
estávamos no primeiro Adão para a perdição. Adão derrubou-nos pela desobediência;
Cristo salva-nos para a obediência incondicional ao Pai e submissão irrestrita à lei.
A permanência da Lei.
XIX.2- Essa lei, depois da queda do homem, continuou a ser uma perfeita
regra de justiça. Como tal, foi por Deus entregue no monte Sinai em dez
mandamentos e escrita em duas tábuas; os primeiros quatro mandamentos ensinam
os nossos deveres para com Deus, e os seis, os nossos deveres para com o homem.
Ref.:
Mt 22. 37-40; Ex 20. 1-17.
Síntese.
A lei de Deus não foi nem pode ser revogada.
Ela nos comanda nos relacionamentos com Deus e com o próximo.
A Lei de Deus é perfeita e permanente
Deus é absolutamente perfeito e imutável. Suas ordenanças, procedendo de
mente perfeitíssima e dotada de imutabilidade, trazem as marcas do Supremo
Legislador: incorrigibilidade, irrevogabilidade e imutabilidade. Estas são as causas
primárias sobre as quais se assentam as consequências permanentes e gerais da ab-rogação (anulação),
do primeiro mandamento proibitivo: Dela [do fruto da árvore] não comerás;
comendo, morrerás ( cf Gn 2. 17 ). Adão matou-se pela desobediência, arrastando para
o fosso da morte todos os que dele procederam e procedem. Assim, a cominação penal
da lei quebrada continua irrevogavelmente vigente de geração em geração, pois todos os
seres humanos são pecadores. Ninguém pode quebrar impunemente uma lei divina. O
próprio Filho de Deus, embora sem pecado individual, veio para cumpri-la, não ab-rogá-
La (anulá-la). Ele nasceu de mulher, isto é, humano, e submisso à lei, quer dizer: sob o juízo
dos termos pactuais do pacto que Deus estabeleceu com o seu povo escolhido ( Cf Gl 4.
4 ).
A graça nos salva para a obediência
Em Cristo Jesus nasceu uma nova humanidade proveniente da velha, de natureza
adâmica, da qual herda a semente do pecado original, que a leva a pecados fatuais
constantes. Esses, que representam verdadeiras intromissões na nova criatura, causam-lhe
dissabores mas que, confessados a Deus, são por ele perdoados, se a confissão for
realmente sincera e partir de um eleito regenerado. Todos os redimidos, exatamente por
serem regenerados filhos de Deus, estão submissos às leis do Pai eterno. A graça, pois,
viabiliza a lei, não só em decorrência do rigoroso cumprimento no e do Homem
representativo, Jesus Cristo, mas da capacitação do redimido à submissão a Deus e às
suas ordenanças, bem como da eficácia do perdão divino aos confessantes, levados pelo
Espírito ao arrependimento real e sincero de seus delitos contra o Salvador. Somos
salvos por Cristo para uma vida de submissão e obediência, apesar de nossa
pecaminosidade. O amor de Deus, concedido a nós em e por Cristo Jesus, habilita-nos à
obediência que, quando não realizada, temos os recursos, concessões da graça, da
confissão, do perdão e da intercessão mediatária de Cristo ( I Jo 2. 2. 1,2 ). Cristo, pela
mote expiatória, eliminou a “ação mortal do pecado” sobre os redimidos, mas não
retirou dos salvos a propensão para a desobediência, a malignidade pecaminosa. Por
outro lado, deu aos seus servos regenerados o recurso da confissão e a bênção do
perdão. O Espírito Santo diagnostica o pecado do filho de Deus, e o leva ao
constrangimento e à tristeza. Este, pressionado internamente pelo sentimento de culpa,
confessa seus pecados, recebendo o perdão de Deus. Tal graça é privativa dos eleitos de
Deus em Cristo Jesus.
Leis Cerimoniais.
XIX.3- Além dessa lei, geralmente chamada lei moral, foi Deus servido dar ao
seu povo de Israel, considerando uma Igreja sob tutela, leis cerimoniais que contêm
diversas ordenanças típicas. Essas leis, que em parte se referem ao culto e prefiguram
Cristo, as suas graças, os seus atos, os seus sofrimentos e os seus benefícios1, e em
parte representam várias instruções de deveres morais2, estão todas ab-rogadas sob o

Novo Testamento3. Ref.:

(( AB-ROGAR, DERROGAR

A revogação pode ser total ou parcial.
A REVOGAÇÃO TOTAL é denominada de AB-ROGAÇÃO, enquanto a parcial é chamada de DERROGAÇÃO.

A ab-rogação fulmina por completo a eficácia da lei anterior.
A derrogação atinge apenas uma parte dela, subsistindo as disposições não alcançadas.
Na lição de Caio Mario da Silva Pereira, 'ab-rogada uma lei, desaparece e é inteiramente substituída pela lei rovogadora, ou simplesmente se anula, perdendo o vigor de norma jurídica, a partir do momento em que entra em vigor a que a ab-rogou. Derrogada, a lei não fenece, não sai de circulação jurídica, mas é amputada nas partes ou dispositivos atingidos, que apenas estes perdem a obrigatoriedade'." )).


1- Hb 10.1; Gl 4. 1-3; Cl 2. 17.
2- Lv 5. 1-6; Lv 6. 1-7.
3- Mc 7. 18,19; Gl 2. 4; Cl 2.17; Ef 2. 15,16.
Síntese.
As ordenanças cerimoniais, tipificavam ou simbolizavam o que se realizaria
definitivamente em Cristo Jesus.
As leis regulamentadoras dos comportamentos morais do velho povo de Deus.
Deus governa sua Igreja e os que estão nela pela lei do amor implantada nos
corações regenerados pelo Espírito Santo.
Tipologia Veterotestamentária
As leis litúrgicas ou rituais do Velho Testamento foram geradas, promulgadas e
executadas por Deus. Por elas o Redentor criou, organizou e colocou em funcionamento
o culto a ser-lhe prestado, sendo, por um lado, um sacrifício de livramento das sentenças
judiciais sobre os delitos preconizados pelo código moral sinaítico e, por outro, um
sistema riquíssimo de sinais, símbolos e tipos do que o Filho do Homem, Deus
encarnado, faria, livrando do domínio do pecado os eternamente escolhidos do Pai. No
cerimonialismo litúrgico do antigo Israel foram tipos de Cristo ou de sua obra: O
sacerdócio mediatário, especialmente o Sumo Sacerdote; o altar dos holocaustos; o
imaculado cordeiro substituto e seu sacrifício vicário; a transferência dos pecados
confessados para a vítima sacrificial; a exclusiva ação de Deus no provimento da
salvação do homem; o derramamento do sangue inocente ( entrega da vida ) em lugar
do pecador; o Santo dos Santos privativo do Sumo Sacerdote, posto a serviço dos
pecadores; a voz de Deus ouvida por meio do sacerdote. A estes protótipos,
acrescentam-se: A Páscoa; a circuncisão; o dia de descanso ( Sabath ). Tudo isto, sendo
sombras, tipos e símbolos, realizaram-se e se consumaram plenamente em Cristo Jesus:
Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas,
nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano
após ano, perpetuamente, eles oferecem ( Hb 10.1 cf com o cap 9 ). Porque tudo isso
tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém, o corpo é de Cristo ( Cl 2. 17 ).
O sábado definitivo, ou descanso da alma, realiza-se em Cristo Jesus, já na presente
vida, plenificando-se na existência vindoura.
Regulamentos morais
As leis morais derivadas, com as cabíveis cominações de penas, foram
proclamadas por Deus e dadas ao povo que elegera e separara para ser-lhe de
propriedade exclusiva. Sobre os seus eleitos, com os quais constituiu a nação santa,
exercia domínio real e soberania absoluta. Para cidadãos reduzidos a servos, e dentro do
contexto histórico e cultural daqueles tempos, Deus legislou com autoridade
inquestionável e irrecorrível ( Cf Lv 5. 1-6: Lv 6. 1-7 ). Foi essa legislação de
procedência divina, aplicada a seres humanos falíveis, que diferenciou Israel dos demais
povos: o povo de Deus governado por Deus.
A lei do amor
No Novo Testamento, estando a lei de Deus implantada nos corações pelo
Espírito Santo, o cumprimento não obedece a sistemas externos estereotipados, mas ao
imperativo da ética cristã escrita nas consciências regeneradas. Tudo que implica em
desamor a Deus e ao próximo é quebra da lei de Deus ( Cf Mt 22. 37-40 ). O regenerado
em Cristo Jesus não é coagido a guardar a lei como seus antepassados israelitas, mas
compungido por sua própria natureza renovada à obediência irrestrita e ao respeito
absoluto ao seu Senhor e Salvador. A ordem de comando de sua vida parte de seu
interior, produzida pelo Espírito Santo, que nele habita, também responsável pela
iluminação que o leva à compreensão e apreensão da Palavra de Deus, tanto quanto de
sua submissão a ela. O crente é dirigido pelo Espírito de Deus, intérprete de Cristo e
aplicador das determinações divinas por meio das Escrituras Sagradas.
Conteúdo teocrático da lei mosaica.
XIX.4- A esse mesmo povo, considerado como um corpo político, Deus deu leis
civis que terminaram com aquela nacionalidade, e que agora não obrigam além do
que exige a sua eqüidade geral. Ref.:
Mt 5. 38,39; I Co 9. 8-10: caps. 21 e 22 de Ex.
Síntese.
Deus estabeleceu um governo teocrático para o seu povo, em que todas as leis
possuíam conteúdo e efeitos civis e religiosos concomitantemente.
A Teocracia de Israel
Deus retirou o seu povo do Egito, dirigiu-o no Êxodo, preservou-lhe a identidade
política, deu-lhe um governo extremamente organizado por meio de normas legais, que
lhe regulavam a vida civil, política e religiosa. A autoridade central era o próprio Deus,
que exigia à sua augusta pessoa submissão, e respeito, acatamento e fidelidade e às suas
determinações, tanto para as ordenanças morais do relacionamento social quanto para
as regras litúrgicas do culto rigorosamente teolátrico. Israel jamais legislou para Javé,
este é que o fez, e com extremado zelo, para que os seus, externa ou internamente
escolhidos, fossem governados com eqüidade, justiça e ordem. Por outro lado, Deus
escolheu seus adoradores para que o adorassem em espírito e em verdade,
estabelecendo-lhes, com riquezas de detalhes, o modo, o como e o quando lhe
prestariam culto. Estas informações revestem-se de qualificadíssimo e importantíssimo
conteúdo teológico, pois nos indica o absoluto teocentrismo tanto do governo como da
liturgia de Israel: Deus escolheu e designou os seus adoradores, prescrevendo-lhes
também os modos e os meios de adoração; restando ao homem a obediência, o
acolhimento e a fidelidade. O Deus do antigo concerto é supremamente Rei, Legislador
e organizador do culto a ser-lhe prestado. Ele é que estabeleceu as regras, os
parâmetros, os meios e os instrumentos do culto, que desejava receber de seus
escolhidos. Conclusão: o Deus do Pacto é o que escolhe os adoradores e a maneira
como deve ser adorado; diferente dos deuses pagãos, que eram escolhidos, e a adoração
seguia normas humanas estabelecidas e praticadas pelos seus fiéis. No teocentrismo de
Israel, o rei, o sacerdote e o profeta templário eram “ungidos”, isto é, dotados de
autoridade messiânica, conforme o contexto do teocentrismo vigente. O palácio e o
templo integravam-se e se interagiam, pois o limite entre o religioso e o civil era
estreitíssimo, embora houvesse distância enorme entre o sagrado e o profano. As leis,
portanto, tanto as morais como as cerimoniais, aplicavam-se, indistintamente, a todos os
cidadãos, regulamentando-lhes o civismo, o patriotismo, a moralidade e a religiosidade,
especialmente no que concernia ao ritualismo sacro.
Hoje, os estados, especialmente os democráticos, são inteiramente laicos,
deixando o múnus espiritual para a religião com suas numerosas e divergentes seitas,
algumas delas ainda beneficiárias do poder público. O estado é um poder executivo,
legislativo, imperativo, governamental, social, coercitivo e punitivo. A Igreja é um
poder de natureza espiritual e moral, agindo por persuasão, influência, testemunho
cristão, pregação e ensino. Os conflitos éticos entre Igreja e Estado têm sido freqüentes,
o que é natural, pois um encarna o materialismo, outro, o espiritualismo.
A universalidade da Lei Moral.
XIX.5- A lei moral obriga para sempre a todos a prestar-lhe obediência, tanto
as pessoas justificadas como as outras, e isto não somente quanto à matéria nela
contida, mas também pelo respeito à autoridade de Deus, o Criador, que a deu1.
Cristo, no Evangelho, não desfaz de modo algum esta obrigação, antes a confirma2.
Ref.:
1- Rm 13. 8,9; I Jo 2. 3,4,7; Rm 3. 31; Rm 6. 15.
2- Mt 5. 18,19; Tg 2. 8.
Síntese
O comportamento preconizado na legislação e a autoridade do Legislador
exigem obediência irrestrita e respeito incondicional.
Cristo confirma e cumpre a lei.
A lei e o Legislador
A autoridade da lei decorre da autoridade do Legislador, que é sempre superior
àquilo que ordena ao homem pecador. No universo jurídico humano, o autor da lei
submete-se ao objeto de sua autoria como cidadão entre os seus pares. Deus não
legislou para si mesmo, mas para os seus escolhidos. Deus em si mesmo é perfeito, não
precisando de regulamentos ou normas para, segundo os quais, atuar e ter os seus feitos
ajuizados conforme princípios legais preestabelecidos. Deus não é dirigido nem
disciplinado por meio de parâmetros legais externos. Ele é soberano para interromper,
dependendo de seus propósitos, qualquer lei ou regra, tanto na ordem natural como na
social. Quando isso acontece, temos o milagre, inexplicável à luz da lógica empírica e
das leis naturais.
Deus se vale da lei para julgar-nos, estabelecendo a justiça de nossas obras e a
correção de nossos atos. O decálogo permanece atual, como atual tem sido o seu
Legislador. Os preceitos: Não matarás, não furtarás, não cobiçarás, entre outros, são
universais, pois válidos para todos os indivíduos e povos de todos os tempos, culturas e
raças.
Cristo e a lei
Cristo, como verdadeiro homem, esteve submisso à lei de Deus, cumpriu-a fiel e
rigorosamente, deixando para nós a sapientíssima e autoritativa sentença: Até que o céu
e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei ( Cf Mt 5.18 ). A lei, para o
servo do Cordeiro, tem o papel de indicar o pecado, para que o crente o confesse e
obtenha o perdão em Cristo Jesus. A consciência de que somos desobedientes é
suscitada ou despertada pela lei de Deus que, aplicada em nós pelo Espírito Santo,
convence-nos do pecado, da justiça e do juízo. Sem lei, não saberíamos exatamente o
que é pecado, nem Cristo teria morrido por nós, pois sua morte aconteceu por causa de
sua fidelidade em nosso lugar. Pelo Filho de Deus e nele a lei cumpriu-se
rigorosamente, possibilitando a justificação de todos os que nele estão.
Israel, nos tempos da soberania nacional, quando a lei e o culto funcionavam
normalmente, era hierocêntrico, isto é, tinha no templo o polo centralizador da unidade
teocrática nacional. O Monte Sião funcionava como centro convergente dinamizador da
vida social, política e religiosa do povo de Deus. A Casa de Deus ( espaço sagrado )
abrigava ao altar, a tribuna, o fórum e o trono. Nela pulsava o coração de Israel e por ela
atuava a mão de Deus por intermédio de seus ungidos. Com a perda da nacionalidade, e
estando os israelitas dispersos, o poder centrípeto transferiu-se para a lei, que passou a
atuar sozinha, sem o auxílio complementar do trono e do altar, dando origem à
nomocentria e à nomolatria. No fundamentalismo sinaítico, o importante não era o
homem perante Deus, mas diante da lei, como se a divindade não pudesse atuar senão
por um único meio, o código mosaico. Dentro do legalismo geral estava o sabatismo
exacerbado, base condenatória de muitos atos divinos, livres e humanos do Filho de
Deus.
Com o advento de Cristo, reformulador da lei ( cf Sermão da Montanha – Mt 5 a
7 ), o novo Israel, a Igreja, tornou-se cristocêntrico. Centralizando-se em uma pessoa
real, humana e divinamente perfeita, possibilitou a fundamentação do sacratíssimo
princípio: o importante é o homem diante de Cristo, não o legalista perante a lei com
seus impraticáveis estereótipos morais e religiosos. Relacionamo-nos com Deus por
intermédio de Cristo. Entre nós e o Pai celeste está o Filho sem a interposição fria,
acusadora e condenadora da lei. Do Salvador o crente pode ouvir: Quem crer será salvo
( Jo 3. 15 cf Mc 16. 16 ), e não quem guarda a lei. A nossa lei é Cristo, a pessoa em
quem estamos, de quem recebemos a vida e a maneira de vivê-la corretamente nele.
A Lei condena; Cristo resgata.
XIX.6- Embora os verdadeiros crentes não estejam sob a lei como um pacto de
obras, para serem por ela justificados ou condenados1, contudo ela serve de grande
proveito, tanto a eles como aos demais. Como regra de vida, ela lhes informa da
vontade de Deus e do dever que eles têm; ela os dirige e os obriga a andar segundo a
retidão2; descobre-lhes também as pecaminosas poluções da sua natureza, dos seus
corações e das suas vidas3, de maneira que eles, examinando-se por meio dela,
alcançam mais profundas convicções do pecado, maior humilhação por causa deles e
maior aversão a eles4, e ao mesmo tempo lhes dá uma melhor apreciação da
necessidade que têm de Cristo e da perfeição da obediência a ele5. Ela é também de
utilidade aos regenerados, a fim de conter a sua corrupção, pois proíbe o pecado6; as
suas ameaças servem para mostrar o que merecem os seus pecados e quais as aflições
que por causa deles devem esperar nesta vida, ainda que sejam livres da maldição
ameaçada da lei7. Do mesmo modo as suas promessas mostram que Deus aprova a
obediência deles e que bênção podem esperar, obedecendo8, ainda que essas bênçãos
não lhes sejam devidas pela lei considerada como pacto das obras – assim o fazer um
homem o bem ou o evitar ele o mal, porque a lei anima aquilo e proíbe isto, não é
prova de estar ele debaixo da lei e não debaixo da graça9. Ref.:
1- Rm 6.14; Gl 4. 4,5; At 13. 39.
2- Rm 7. 12; Sl 119. 5; Gl 5. 14,28,22,23; I Co 7. 19.
3- Rm 7.7; Rm 3.20;.
4- Rm 7. 9,14,24;.
5- Gl 3. 24; Rm 8.3,4; Rm 7. 24,25.
6- Tg 2. 11; Sl 119. 128.
7- Ed 9. 13,14; Sl 89. 30-34.
8- Sl 36. 11; Sl 19. 11; Ef 6. 2; Mt 5. 5;
9- Rm 6. 12,14; Hb 12. 28,29; I Pe4 3. 8-12.
Síntese.
A lei é um código da graça, não um código penal.
O eleito é regenerado para guardar a lei, escrita no seu interior e
constantemente reavivada pelo Espírito Santo. O Pai gravou a lei em
tábuas de pedra; o Filho transportou-a para os corações redimidos.
A Lei é um código da graça
Há uma considerável ala do cristianismo que contrasta a lei com a graça e, em
conseqüência, classifica o Deus do Velho Testamento como o da justiça pura, sem
perdão e sem amor; em oposição ao Deus do Novo Testamento encarnado em Jesus
Cristo, como sendo ágape genuíno e imaculado, disposto a perdoar sempre e nunca
condenar. Neste caso, ou Cristo é um Deus diferente ou a divindade veterotestamentária
mudou. A primeira hipótese destrói a Trindade; a segunda, elimina a imutabilidade. O
Deus da criação é o mesmo da redenção: indissoluvelmente trino. A lei foi concedida ao
povo que Javé libertou da escravidão egípcia com mão forte e braço estendido, de
maneira misericordiosa. Constituído em nação santa, de propriedade exclusiva do
Libertador, este outorgou-lhe um código de princípios normativos para o
relacionamento adequado com o Soberano Senhor e com os concidadãos ou
compatriotas, bem como as regras litúrgicas do culto devido somente a Ele. Só os
judeus possuíam a bênção da “lei de Deus,” uma divina graça, exclusiva dos eleitos. A
lei foi dada aos salvos da escravidão, jamais para salvá-los. Foram libertos sem lei pelo
exclusivo e inefável amor de Deus. As normas comportamentais e litúrgicas vieram
depois, para que o Pai amoroso pudesse comandar o seu povo, e este obedecê-lo
corretamente. A lei foi uma dádiva do Salvador aos seus servos, libertos das garras de
Faraó.
Deus é amor perfeito, mas é também justiça plena, tanto no Velho como no
Novo Testamentos.
Eleitos e salvos para obedecer
Não somos salvos pela lei, que nunca foi posta como meio de salvação, mas pela
graça em Cristo Jesus. A redenção habilita-nos ao cumprimento do que o Salvador
preceitua na sua lei. Primeiro, Deus salva; depois, exige obediência incondicional dos
salvos. A lei, portanto, é para os redimidos, não para redimi-los. A Igreja, povo de
Cristo, chamada das trevas para a sua maravilhosa luz, submete-se à lei, isto é, à
vontade de Deus expressa em sua Palavra. Ela aponta o que devemos fazer e o que
precisamos evitar.
No Velho Testamento, a lei condenava, indicando o delito cometido ( Rm 7. 7 ),
mas a oferta de uma vida animal em holocausto, depois de o ofertante ter confessado
seus pecados sobre ela, trazia o perdão do pecador por transferência da culpa e
substituição da vítima real, o pecador, que deveria morrer para cumprir a sentença
divina: Quem pecar, morrerá. Portanto, a lei apenas condenava; o sacrifício expiatório
isentava o culpado da culpa pecaminosa. Nem na velha dispensação a lei tinha múnus
salvador, função exercida tipologicamente pelos sacrifícios expiatórios, que foram
sumariados e consumados no sacrifício único do Cordeiro. Cristo cumpriu a lei,
morrendo, embora sem pecado pessoal, por nossas culpas. A graça nos beneficia porque
a nossa maldição, imputada a nós pela a lei de Deus ab-rogada, quando pacto de obras,
recaiu pesadamente sobre o nosso substituto no Calvário, Cristo Jesus. Não foi de graça
para Cristo o que é de graça para os escolhidos. É inadequado e até injusto dividir a
atuação redentora de Deus em pactos antitéticos e até opostos: o da lei e o da graça. Há
um só pacto, com modos diferentes de execução, o da redenção ou da graça. Deus
operou graciosamente em todas as suas formulações pactuais a favor do pecador, jamais
contra ele.
O crente guarda a lei por compulsão natural, por ter sido implantata em sua
essência a semente da obediência, em virtude de sua natureza de filho de Deus por
regeneração e adoção.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.


CAPÍTULO I
DA ESCRITURA SAGRADA .
I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.
Sal. 19: 1-4; Rom. 1: 32, e 2: 1, e 1: 19-20, e 2: 14-15; I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.
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II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os 66 livros compreendidos de Gêneses à Apocalipse, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática:
Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.
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III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.
Luc. 24:27,44; Rom. 3:2; II Pedro 1:21.
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IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.
II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.
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V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações.
I Tim. 3:15; I João 2:20,27; João 16:13-14; I Cor. 2:10-12.
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VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas.
II Tim. 3:15-17; Gal. 1:8; II Tess. 2:2; João 6:45; I Cor. 2:9, 10, l2; I Cor. 11:13-14.
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VII. Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.
II Pedro 3:16; Sal. 119:105, 130; Atos 17:11.
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VIII. O Velho Testamento em Hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve no temor de Deus lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das escrituras.
Mat. 5:18; Isa. 8:20; II Tim. 3:14-15; I Cor. 14; 6, 9, 11, 12, 24, 27-28; Col. 3:16; Rom. 15:4.
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IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.
At. 15: 15; João 5:46; II Ped. 1:20-21.
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X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.
Mat. 22:29, 3 1; At. 28:25; Gal. 1: 10.